08/03/2022 09h00 - Atualizado em 08/03/2022 09h40

Mulheres fazem a diferença no turismo capixaba

O Espírito Santo se destaca pela sua diversidade cultural. É uma mistura de tradições e costumes. Dos povos tradicionais até os diversos imigrantes – italianos, alemães, pomeranos, africanos, libaneses, entre outros – que fixaram residência por aqui e trouxeram uma riqueza cultural mantida de geração em geração. Em todos estes, as mulheres têm um lugar especial. 

Seja à frente das famílias, ajudando na lida no campo ou cuidando da alimentação, seja também liderando empreendimentos sem esquecer de suas origens, as mulheres se destacam.  Neste Dia Internacional da Mulher, comemorado em 08 de março, trazemos alguns exemplos da força feminina que mantém vivas tradições que fazem parte da atratividade do Espírito Santo como destino turístico.  

“As mulheres estão à frente não só nos diversos empreendimentos que compõem a cadeia produtiva do turismo, mas também nas administrações municipais e instâncias de governança, fazendo esta atividade, geradora de emprego e renda, ainda mais forte, diferenciada e importante para a economia de nosso estado”, destacou a secretária de Estado de Turismo, Lenise Loureiro.   

Das mãos habilidosas das Paneleiras de Goiabeiras nasce a nossa panela de barro, onde são preparadas duas das principais receitas que aguçam o paladar dos turistas: a moqueca e a torta capixaba. Moldada em vários tamanhos, a panela é uma arte secular mantida por gerações, sendo reconhecida como o primeiro patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 

A tradição da panela de barro é passada por avós, tias, mães. Uma dessas mulheres que transmitem esse conhecimento é Berenicia Correia Nascimento. Junto com outras 60 paneleiras mantém essa tradição na região de Goiabeiras, em Vitória. Ela conta que, inicialmente, a produção era feita em casa, mas o grupo se uniu e se organizou, sendo hoje um dos principais pontos turísticos do Espírito Santo.

 

“Recebemos visitas de muita gente aqui, a imprensa sempre nos ajuda a contar nossa tradição e as panelas continuam sustentando nossas famílias com os ensinamentos de nossas tias, avós, mães”, destaca Berenicia Nascimento, que preside hoje a Associação das Paneleiras de Goiabeiras. Hoje, as paneleiras recebem não apenas visitantes, mas também encomendas de todos os lugares.

Nestas panelas moldadas pelas mãos femininas são preparados dois pratos típicos do Estado, a moqueca e torta capixaba. Na culinária, as mulheres também têm forte presença. Na região da Ilha das Caieiras, também na Capital, um polo de restaurantes é liderado por elas. O local é um roteiro turístico para quem visita a cidade, com destaque para as desfiadeiras de siri. A região também sedia o tradicional Festival da Torta Capixaba.

Eliana Santos Muniz Correia e Simone Leal lideram instituições que reúnem as desfiadeiras de siri, artesãs e pescadores, estimulando o trabalho e a união de todos. Assim, divulgando as tradições capixabas e trabalhando para que o atendimento aos turistas aconteça da melhor maneira.

 Eliane Correia se orgulha de junto com a comunidade ter criado o Festival da Torta Capixaba, que movimenta a economia local na época da Páscoa. Hoje ela lidera o Instituto de Desenvolvimento Sustentável da Ilha das Caieiras com foco na preservação do mangue. “É daqui que tiramos nosso sustento e precisamos preservar, afinal é dele que saem os principais ingredientes de nossa moqueca e da nossa torta, que geram renda para todos por aqui”, lembrou.

Simone Leal, que também trabalha em restaurante na Ilha das Caieiras, é outro exemplo de liderança. Neste ano está sendo comemorado um ano de fundação da Associação de Mulheres Pescadores de Comunidade Tradicional e Economia Solidária, criada por ela e que reúne 140 pessoas. “Nasci em Vila Velha, mas sou apaixonada por este lugar e por isto trabalho para que cada vez mais a comunidade se organize e possamos atrair visitantes e turistas para cá, gerando renda para nossa comunidade”, pontuou.

 

Imigrantes

Na região dos Imigrantes, a polenta segue como tradição e é a protagonista da festa anual que acontece no município de Venda Nova do Imigrante, na microrregião Sudoeste Serrana.

Representando a força do povo italiano que chegou ao Espírito Santo a partir de 1874 e das mulheres que ajudaram a construir nosso Estado, destacamos a história da família da dona Inês Meneghini Carlini, 88 anos, moradora de Santa Teresa – localizada na microrregião Central Serrana. Seu pai Abraão é um dos 11 filhos do imigrante Luigi Meneghini, natural de Lonigo, na Itália. Ela nos conta que a polenta era o prato principal da família e até hoje o prato está presente nas reuniões familiares com os 13 filhos, 28 netos e 16 bisnetos.

“A gente comia o que se colhia. A polenta era o alimento presente no café da manhã, no almoço e no jantar e assim como eu fui criada, criei meus filhos e até hoje a polenta é presente em nossa casa”, afirmou dona Inês, destacando que o milho era moído em um moinho de pedra movido pela força da água.

 Segundo ela, a polenta era servida numa tábua de madeira, cortada com linha e fazia parte da janta, acompanhada por “menestra”, uma sopa de feijão com arroz. “Pela manhã, a polenta era assada na chapa do fogão a lenha e comíamos com café”, relembrou Dona Inês, que até hoje, prepara a polenta no fogão a lenha.

Lolém

Outro exemplo de protagonismo feminino na culinária capixaba vem da localidade de Santa Maria de Marechal, no município de Marechal Floriano, também na microrregião Sudoeste Serrana. As protagonistas são Maria Lúcia Krohling Brambilla e sua irmã de criação Ormy Margarida Gilles, duas das guardiãs da receita familiar do Lolém, uma delícia feita com uma massa artesanal com recheio de linguiça, queijo e ovo.

      

 

A receita original é da família Brambilla de Venda Nova do Imigrante. O prato é passado de geração em geração e foi ensinado às filhas e noras pela senhora Maria Poletto Brambilla. Dona Maria Lúcia, que vive no interior de Marechal Floriano, aprendeu com a sogra e levou essa tradição familiar para um concurso, transformando aquilo que era uma “receita da nona” em um atrativo da região. Após o reconhecimento, a delícia entrou para o cardápio da pastelaria da família e também é comercializado congelado.

 

Pó de Mulheres

Importante fonte de renda no campo, a cafeicultura no Espírito Santo também é marcada pela presença feminina. Por iniciativa da Cooperativa de Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul), as mulheres dos cooperados foram chamadas a participar. Inicialmente por meio de cursos de culinária e artesanato tendo o café como base, as mulheres se uniram e descobriram que juntas poderiam criar uma marca. Assim nasceu o “Pó de Mulheres”. 

“Apesar de sempre as mulheres participarem da produção do café com a família, a cooperativa não era frequentada por elas. Por isto, iniciamos em 2014 um trabalho de motivação para que elas participassem, gerando este grupo que hoje se destaca na produção e comercialização do café 100% conilon, 100% capixaba e 100% feito por mulheres”, pontuou a coordenadora de recursos humanos da Cafesul, Natércia Bueno Vencioneck Rodrigues.

     

 

A coordenadora explica ainda que a produção de café sempre contou com a mão feminina, mas que este grupo percebeu a importância de fazer parte de todo processo - plantio, colheita e venda - trazendo para o mercado consumidor um café tão bom quanto o produzido pelos homens.

“Agora o grupo está organizando um roteiro turístico em algumas destas propriedades, oportunizando que os turistas conheçam o processo de produção e saboreiem não apenas a bebida, mas outros produtos que tem como base a cultura. Gerando assim renda e oportunidades para a região”, disse Natércia Rodrigues.

 

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