Santuário Nacional de São José de Anchieta será restaurado
O Santuário Nacional de São José de Anchieta, formado pela Igreja de Nossa Senhora da Assunção, um dos símbolos da presença jesuíta no Brasil, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1943, e por áreas da antiga residência jesuíta e pelo museu, vai ser restaurado.
O processo de recuperação deste valoroso monumento católico, um dos mais antigos do País, será feito em etapas e terá duração de total de dois anos. A primeira fase, prevista para iniciar em junho, fará o restauro e a readequação do museu. Realizada em 18 meses, ela compreenderá, entre outros, uma série de obras para oferecer maior acessibilidade às pessoas com dificuldade de locomoção, como rampas, banheiros adaptados conforme normas técnicas, sinalização em braile e plataformas elevatórias para que os visitantes tenham acesso à Cela de São José de Anchieta e às salas do museu.
Contempla, ainda, projetos museológicos e museográficos para organização de acervo e investimentos na climatização, na iluminação, na comunicação, na sonorização e no restauro de peças. A sustentabilidade econômica do museu será garantida com a construção de uma loja e um café para atender aos fiéis e peregrinos. O restauro de todos os telhados do museu e da Igreja conclui a lista de obras desta primeira fase.
Na segunda etapa, serão executados o restauro da Igreja, a montagem da sala de documentação e estudos e o paisagismo cultural na área do entorno do Santuário.
Segundo Érika Kunkel Varejão, coordenadora geral e presidente do Instituto Modus Vivendi, o projeto em andamento terá impacto positivo nosâmbitos cultural, econômico e social. “Preservar este bem patrimonial e a memória da aldeia de missão jesuítica de Reritiba vai além de promover a história de um santo, é guardar a história de um Estado e do Brasil”, afirma.
A primeira etapa da obra será realizada com patrocínio da Vale, via Lei Rouanet, no valor de R$ 5,664 milhões. O projeto que será executado foi contratado pelo Iphan em 2014, com recurso próprio. O proponente das obras do museu e dos novos projetos é o Instituto Modus Vivendi.
Um museu santo
Um dos pontos relevantes do projeto de restauro e readequação do museu será a Sala de Documentação para estudos e reflexões sobre a vida de São José de Anchieta, dos Jesuítas e dos “Ameríndios”, com um material único de pesquisa sobre todo o processo de canonização e acesso liberado após passar pela bilheteria do museu. A interatividade será garantida com computadores e novas mídias.
O acervo para compor a sala já se encontra em posse do Santuário e é de grande importância histórica para todo o Brasil. A documentação compreende correspondências e documentações dos séculos XVI ao XXI produzidas pelos jesuítas e por autoridades eclesiásticas e civis no tocante à evangelização do Brasil, com imenso destaque à figura de José de Anchieta.
O acervo foi construído pelo padre Murillo Moutinho, Vice-Postulador, que resgatou a documentação conservada pelo Vice-Postulador padre José da Frota Gentil e mais tarde pela Associação Pró-Canonização de Anchieta (Canan). Ele reúne cerca de 59 volumes contendo cartas, mapas e outras documentações de 1534 a 1997.
Destaque, ainda, para a coleção da Acta Romana e para o grupo composto por quatro pequenos volumes contendo as fichas iniciais do processo de Canonização com testemunhos dos contemporâneos das virtudes e santidade do Padre José de Anchieta. Também apresenta os processos para a Beatificação e Canonização – “Positivo”. Concluindo o grupo, se destaca a bula de canonização assinada pelo Papa Francisco. Com essa documentação exposta em Anchieta, será facilitado o acesso dos pesquisadores, estudantes e visitantes a este importante documento.
Além do rico acervo, foi firmada parceria com o Arquivo Público do Estado do Espírito Santo para colaboração técnica da montagem da sala. A proposta é seguir exemplos de grandes salas de pesquisas interativas como a Biblioteca da História da Família em Utah, nos EUA, e a de Weimar, na Alemanha, consideradas referências em pesquisa, acervo e novas mídias.
O conjunto Anchietano
O atual monumento nacional que abriga o também nacional Santuário de São José de Anchieta é parte dos espaços físicos do conjunto arquitetônico jesuítico de Anchieta, no Estado do Espírito Santo. Eles se destacam pela importância que tiveram no processo religioso e cultural de numerosos grupos indígenas de distintas etnias e proveniências, conduzido pela Companhia de Jesus entre os séculos XVI e XVIII, segundo modelo considerado pioneiro.
Outra relevância refere-se ao fato de ter sido o lugar escolhido por José de Anchieta para viver os últimos anos de sua vida, onde faleceu no dia 9 de junho de 1597. O Padre José de Anchieta, beatificado pelo Papa João Paulo II em 1980 e canonizado em 2014 pelo Papa Francisco, se tornando o terceiro santo brasileiro, foi enterrado junto ao altar-mor da então Igreja de São Tiago, hoje Palácio Anchieta. Lá ficou enterrado por seis anos, depois partes dos seus ossos foram levadas para Bahia, São Paulo, Portugal e Roma. Atualmente, parte dos ossos do Santo, chamados relíquias, se encontram no Santuário.
Igreja Nossa Senhora da Assunção
O aldeamento de Reritiba foi fundado pelo Padre José de Anchieta. No local de índios tupiniquins estabeleceram-se os missionários jesuítas em 1579 por decisão do padre José de Anchieta, à época o responsável máximo pela Companhia de Jesus no Brasil.
A aldeia acabou por se transformar num dos polos de evangelização e desenvolvimento do Espírito Santo tendo, igualmente servido como laboratório pelo qual passavam obrigatoriamente os jesuítas para aprendizado da língua geral.
Por determinação de D. José I, Rei de Portugal, pouco antes da saída dos jesuítas, em janeiro de 1760, devido ao expressivo número de habitantes cristianizados, Reritiba foi elevada à categoria de vila com o nome de Benavente, tendo a cidade sido criada com a designação de Anchieta, o mais ilustre dos seus moradores, em 12 de agosto de 1887, e ratificada por nova lei do Estado em 1921.
Os Jesuítas no Espírito Santo
Os Jesuítas deixaram marcas por onde passaram. No Espírito Santo, além do aspecto religioso, tiveram papel significativo na educação e no empreendedorismo.
Fundaram o Colégio de São Tiago (atual Palácio Anchieta), em Vitória, e as aldeias de Reis Magos, em Nova Almeida, e de Reritiba, em Anchieta, além das fazendas de Muribeca, em Presidente Kennedy, Itapoca, em Serra, e Araçatiba, em Viana.
As fazendas garantiam a subsistência do Colégio e a continuidade de seus trabalhos, assegurando-lhe independência autárquica, além da função específica de ensino. Elas tiveram significativa influência na vida econômica da capitania ao se tornarem os mais importantes centros de produção da época.
A herança dos Jesuítas também é relevante no conjunto arquitetônico do Patrimônio Histórico no Estado. A relação de prédios inclui o Palácio Anchieta, em Vitória; a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, em Anchieta; a Igreja de Reis Magos, em Nova Almeida; a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Guarapari; a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Viana; a Igreja de São João de Carapina, em Serra; a Igreja de Nossa Senhora das Neves, em Presidente Kennedy e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Guarapari.
Dos principais aldeamentos construídos pelos jesuítas no Brasil, alguns estão nas terras capixabas.
Reritiba, atual Anchieta, fundada por Anchieta, foi o local escolhido pelo jesuíta para passar os últimos anos da vida. Lá se destaca a Igreja Nossa Senhora da Assunção e Convento, uma das obras do padre, datada de 1579.
Não muito distante de Anchieta, no balneário de Nova Almeida se destaca a Igreja dos Reis Magos, construída entre 1580 e 1615, com a ajuda dos índios de tribo Tupiniquim. O local recebeu os primeiros habitantes da região, os índios Goitacazes e Tupiniquim, em uma das quatro reduções que os jesuítas fundaram na Capitania do Espírito Santo.
Na fazenda de Araçatiba, no município de Viana, os jesuítas construíram residência, engenhos, senzalas, oficinas e a igreja dedicada à Nossa Senhora da Ajuda, construída no século XVIII, com grande reforma em 1849.
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